segunda-feira, 13 de abril de 2009

Poema 20 Pablo Neruda

Posso escrever os versos mais tristes esta noite.

Escrever, por exemplo: “A noite está estrelada,

e tiritam, azuis, os astros, ao longe”.


O vento da noite gira no céu e canta.


Posso escrever os versos mais tristes esta noite.

Eu a quis, e às vezes ela também me quis...


Em noites como esta eu a tive entre os meus braços.

A beijei tantas vezes debaixo o céu infinito.


Ela me quis, às vezes eu também a queria.

Como não ter amado os seus grandes olhos fixos.


Posso escrever os versos mais tristes esta noite.

Pensar que não a tenho. Sentir que a perdi.


Ouvir a noite imensa, mais imensa sem ela.

E o verso cai na alma como na relva o orvalho.


Que importa que meu amor não pudesse guardá-la.

A noite está estrelada e ela não está comigo.

Isso é tudo. Ao longe alguém canta. Ao longe.

Minha alma não se contenta com tê-la perdido.


Como para aproximá-la meu olhar a procura.

Meu coração a procura, e ela não está comigo


A mesma noite que faz branquear as mesmas árvores.

Nós, os de então, já não somos os mesmos.


Já não a quero, é verdade, mas quanto a quis.

Minha voz procurava o vento para tocar o seu ouvido.


De outro. Será de outro. Como antes dos meus beijos.

Sua voz, seu corpo claro. Seus olhos infinitos.


Já não a quero, é verdade, mas talvez a quero.

É tão curto o amor, e é tão longo o esquecimento.


Porque em noites como esta eu a tive entre os meus braços,

minha alma não se contenta com tê-la perdido.


Ainda que esta seja a última dor que ela me causa,

e estes, os últimos versos que lhe escrevo

Um comentário:

Anônimo disse...

Compreendi.....fui, não mais sou...entendi.