terça-feira, 14 de abril de 2009

AMOR DE AMAR




Dispo-me dos pudores da forma

coloco meu ouvido no teu peito

e deixo-me levar

na emoção de quem procura

teu rosto na sobra

e te purifica te revela

te orvalhece te incendeia

e comparece em ti

com estas palavras

trazidas da alma



Se chegarei à poesia

não o sei

apenas escrevo estas linha na água

para brilhar no céu

um dia

recolhidas pelas nuvens

ou espremidas ao longo véu das chuvas



Agora desliza minha mão

a auscultar memória da tua pele

a viver nela o tempo impensado

dos navios perdidos viver na tua pele

todos os naufrágios

e renascer na palma

do amanhecer

Agora a vida é renascer

sempre em ti



Um pensamento fugidio às frestas da aurora

é teu nome em meu coração

a romper o silêncio

um risco de luz

transfigurado em tua face

é meu guia

e seguirei

cuidadoso

como um cão

e seguirei teu cheiro

pela noite imensa da paixão



Seguirei

até que te convertas

na própria tinta das palavras

e venhas a escrever

desde esta janela de espanto

que é o mundo

luz redonda de infinito



Seguirei contigo

ainda que estejas longe

e te desfaleças

noutra solidão

noutro minuto de esperança

e te consideres ausente

como são ausentes as distâncias

mas te chamarei baixinho

para te estelar

nas proximidades mais íntimas do amor

Para te estelar

na longitude dos espaços

das geografias

que o amor tem outro calendário

E és tu, namorada,

que me dás a música dos versos

seu rebentar na carne



LUIZ DE MIRANDA

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